No passado, tudo o que Edileuza Guimarães queria era ter uma festa de 1200 anos memorável. Hoje, ela é uma bem-sucedida fornecedora de catering, além de cofundadora e líder de um coletivo de trabalhadores/as domiciliares que conta com XNUMX membros, localizado em Osasco, Brasil. Sua jornada não se desenvolveu à toa, ao considerarmos sua origem. “Sou filha de um sindicalista e de uma mulher da classe trabalhadora,” ela disse. “Nunca cresci pensando só em mim, mas sempre em ‘nós’… em unir forças e trabalhar coletivamente.” 

Seus olhos ficam cheios de lágrimas ao se lembrar do quanto a mãe se esforçou para aprender a cozinhar para os convidados da sua festa de 16 anos. Edileuza a ajudou e as duas descobriram a paixão pela cozinha. Em 2005, elas tinham um coletivo informal composto por cinco vizinhas, cada uma com sua especialidade: produtos de padaria, doces, petiscos etc., preparados em casa. 

Quando sua mãe, Yvone Santos, teve depressão, Edileuza, que é umbandista, começou a orar. “Eu acredito que a fé move montanhas”. Logo depois, Edileuza ficou sabendo da lei de apoio à economia solidária da cidade de Osasco, e do lançamento do edital para inscrição.

“O que mais me chamou a atenção foi a palavra ‘cooperativa’, porque nós já trabalhávamos em formato de coletivo,” disse Edileuza, que sempre morou em Osasco. Ela e Yvone uniram esforços para ajudar a colocar as políticas em ação. Em 2007, foi aberto o Centro Público de Economia Solidária de Osasco. Essa atividade “resgatou” sua mãe da depressão e introduziu Edileuza no mundo da solidariedade.

“Após ajudar minha mãe, percebi que ajudar as pessoas também faz a gente se sentir bem consigo mesmo. Eu sabia que jamais poderia virar as costas para os outros”.

Em 2009, aos 28 anos, tornou-se uma fornecedora de catering profissional envolvida nos esforços de ação coletiva da cidade. Com assistência da Mulheres em Emprego Informal: Globalizando e Organizando(WIEGO)com sede no Reino Unido, ela começou a mapear as necessidades de pessoas trabalhadoras domiciliares de baixa renda. “Comecei a incentivar mulheres a se juntarem a nós e receberem treinamento”.  

Edileuza e sua amiga Patricia Coñoman foram eleitas coordenadoras da COTRADO ALAC uma rede que promove a união de pessoas trabalhadoras domiciliares na América Latina e no Caribe, e participaram de reuniões regionais e internacionais. “Eu trouxe tanta informação de volta.”

Gradativamente, ela percebeu que brasileiras/os precisam mais do que treinamento, precisam se organizar enquanto pessoas trabalhadoras. Um/a colega disse que isso tinha cara de sindicato. Edileuza pondera: “Eu só queria colocar tudo aquilo em prática.”

Em 2019, ela e Edna Simão lançaram a Associação de Trabalhadores em Domicílio da Economia Solidária (ATEMDO), afiliada à HomeNet International (HNI). A associação tinha 20 membros. Edileuza queria realizar eleições, mas todos quiseram que ela e Edna ficassem à frente. Edileuza permanece como presidente, mas, agora, a organização conta com 1200 membros em sete estados brasileiros. Esse crescimento impressionante se deu por conta da crescente presença online da organização durante a pandemia de COVID, aos programas educacionais e às suas muitas histórias de sucesso. Entre elas, estão a ajuda aos membros do estado de Minas Gerais para lançar uma lei de economia solidária, em 2021. No ano seguinte, a ATEMDO fez parceria com a Prefeitura de Osasco para promover acesso a mercados locais, inaugurando um App de vendas para que membros pudessem apresentar e vender seus produtos e serviços. No ano passado, lançaram uma frente parlamentar nacional de apoio às pessoas trabalhadoras informais. O financiamento que recebem da HomeNet lhes permite a contratação de especialistas, conforme surge a necessidade.

As habilidades de incidência política e liderança de Edileuza continuam a crescer. Na qualidade de membro do Comitê Executivo da HNI, ela representou sua organização em eventos globais, como a Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. “Quando entrei na aquela reunião, senti que meu pai estava lá…eu fiquei muito emocionada,” afirmou.

Na atualidade, Edileuza, 44, é uma das sete mulheres do MAESOL, um coletivo de cozinheiras que, recentemente, alugou uma cozinha e um espaço de vendas para o preparo e a comercialização de refeições prontas e congeladas. Quando suas colegas saíram de férias em meados de Janeiro, Edileuza realizou um trabalho temporário como cozinheira num lar de idosos. Mesmo assim, na noite em que a visitamos, ela preparou deliciosos petiscos e nos recebeu graciosamente na cozinha de seu coletivo. 

Além do trabalho de buffet, ela tem uma vida familiar agitada com o marido de 16 anos, um gerente de logística, o filho de 10 anos e a filha de 25 anos. E então há o tempo considerável ocupado por suas funções de liderança.

Ela faz uma breve silêncio, fazendo um balanço geral. “Conheci tantas pessoas que estavam em apuros que eu nunca iria conseguir dormir à noite se lhes desse as costas. Eu sabia que podia ajudar.” Ela passa as mãos sobre o avental, removendo migalhas inexistentes. “Sei que gostar tanto de ajudar pode ser uma faca de dois gumes, pois, às vezes, deixo de pensar em mim mesma e coloco os outros em primeiro lugar, mas fui criada dessa forma. Essa sou eu.”